BTTAVENTURA

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ALGURES NAS FISGAS DO ERMELO

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

PORTO - SANTIAGO DE COMPOSTELA 2011

Costuma-se dizer quem não for a Santiago em vida, terá de lá ir depois de morto.
Eu  pretendi ir em vida...
 Andei dois anos consecutivos a adiar essa aventura devido a diversos contratempos, contudo este ano sempre consegui ir com o companheirismo de mais sete amigos.
Foi uma viagem planeada à exaustão, ao pormenor com muitas horas de pesquisa na net, lendo relatos de inúmeros peregrinos, bttistas, caminheiros e outros.
 Foi necessário efectuar uma pesquisa da rede de albergues de Portugal e Espanha, altimetria do percurso, que objectos necessários para esta viagem, sabendo que apenas se pode levar o essencial, porque o factor peso é muito importante e a nossa viagem seria em autonomia total ou seja por conta própria sem qualquer tipo de apoio a nível logístico.
Ainda faltava um mês para o inicio da aventura e já eu vibrava por dentro, carregando uma ansiedade e alegria, pois tinha uma vasta ideia do que me esperava, mas só depois na hora da verdade, no terreno é que iria testar a minha resistência e preparação.
 Devo dizer que esta aventura tinha de ser este ano, custe o que custasse, porque apresentava a forma física pretendida para este tipo de viagem, pois este verão tinha pedalado intensamente, sentia-me capaz de subir, subir, subir,  sem jamais me cansar.
 Só para que se conste, de Março a Setembro, rolei cerca de 2500 Km.
Adquiridos os alforges, e a bicicleta afinada ao pormenor, na véspera da viagem havia que fazer as malas ou seja os alforges com todo o material necessário que já se encontravam previamente prontos há vários dias.





A concentração ficaria agendada para as 07h30, do dia 30 de Setembro, junto à Sé do Porto, como é apanágio dos peregrinos que saem do Porto em direcção a Santiago.



 


Todavia o inicio da jornada só se verificaria pelas 08h30, pois havia necessidade de comemorar com o nosso afamado vinho do Porto, o inicio da aventura.  









Seguidamente havia que tomar o pequeno almoço na sede do Comando Territorial da GNR do Porto, com direito a mais umas fotos para futuras memórias.












1º Etapa: Porto -  Ponte de Lima 97 km

Esta etapa apesar de teoricamente ser a mais fácil,  revelou -se algo complicada, em virtude de ainda nos subúrbios do Porto, mais concretamente no Araújo e com apenas 10/15 km percorridos, ter havido  uma avaria técnica na bicicleta do Ramos, mais exactamente uma corrente partida, que nos retardou cerca de 1 hora, tendo sido necessário ir a uma oficina substitui-la, porque os elos de ligação eram incompatíveis com a corrente.
Devo dizer que quando o vi com uma bicicleta made "continente" no valor de 50 € ou menos, fiquei completamente atónico e curioso de saber como iria ele conseguir terminar esta etapa com cerca de 100 km. Pensei logo: mais um alienado que julga que Santiago fica ali à frente. Com o passar das horas e no fim do primeiro dia com a chegada a Ponte de Lima, constatei que este alienado, afinal tinha potencial para chegar a Santiago, desde que a sua bicicleta o permitisse.
Meus Senhores, não é preciso ter nenhuma Specialized; Mondraker; La Pierre etc.. , esses materiais de topo em carbono,  caríssimos, tudo XPTO; é tudo uma grande treta, é só vaidade, o que é preciso é ter pernas e preparação física.








MOSTEIRO DE SÃO PEDRO DE RATES
Este mosteiro era um ponto de passagem de uma via romana, e é aqui que começa verdadeiramente um dos trilhos dos Caminhos de Santiago. As origens deste templo saão anteriores à nacionalidade


Igreja Românica

Traseiras Mosteiro de S. Pedro Rates




O Padre Machado achou por bem celebrar uma sessão eucarística a fim de apadrinhar a nossa aventura.



Posteriormente 

sabendo do sacrilégio que acabara de cometer foi confessar os seus pecados, para poder iniciar a sua peregrinação na máxima das purezas.









Outros lhe seguiram o mesmo caminho.



Exterior albergue de S. Pedro de Rates - CRUZ DE SANTIAGO



Os furos da praxa

Ponte de Barcelos - Barcelinhos

O famoso galo de barcelos

Num cruzeiro centenário, algures em Barcelos, descansando



Albergue de Tamel - Barcelos
Local onde adquiri a minha vieira que me iria acompanhar nas minhas viagens

Matando a fome a caminho de Ponte de Lima


Matando a sede a caminho de Ponte de Lima, não havia cerveja, que pena.





Jantar em Ponte de Lima



Visita do nosso grande amigo Fernandes com a sua típica burrinha

Após o jantar na Ponte Romana de Ponte de Lima


Pernoitamos na casa da Juventude de Ponte de Lima, que fica a seguir á ponte Romana do lado direito, na margem oposta. Devo dizer que a pousada possui instalações de excelência, onde prima a limpeza e higiene. Parabéns Ponte de Lima...
Só nos restava era ir jantar uns rojões à moda de Ponte de Lima, para de seguida nos deitar cedo, pois a próxima jornada seria bem difícil.



Preparativos para o segundo dia da aventura



2º Etapa: Ponte de Lima - Porrino 87 km

Saída de Ponte de Lima às 08h00, com o pequeno almoço a ser tomado na praça principal de Ponte de Lima.


Pequeno almoço para iniciar a segunda jornada


A partir daqui  a aventura torna-se cada vez mais aliciante, as paisagens são cada vez mais fantásticas, onde predomina a zona rural, caminhos de terra batida e empedrados que rasgam o Vale do Lima entre casas antigas de lavoura, passando por inúmeros cruzeiros, que perduram ao longo dos tempos como se fossem centuriões, guardando e protegendo um caminho milenar cheio de segredos  e de histórias de fé.





Calçada Romana à saída de Ponte de Lima










Lentamente o caminho passa a ser mais agreste, cheio de pedras soltas, onde cada vez a inclinação se faz sentir, sendo por vezes  necessário desmontar a menina e empurrá-la. A Labruje espreitava e já dava sinais da sua graça.


A dureza da Serra da Labruge

Caminho duro, parece fácil mas não é



 Efectivamente estávamos a iniciar a sua  ascensão, onde durante 4/5 km, seguimos por um caminho intransitável, com penedos, rochas , regos profundos, e inclinação bastante considerável, sendo por isso necessário empurrar a menina com os alforges, que por inúmeras vezes era tarefa muito dolorosa, pois ciclista e menina teimavam em andarem para trás, sobretudo num determinado lance já perto do final do martírio, em que para subir com a bicicleta,  mais parecia que estávamos a praticar escalada.
No entanto após tão grande esforço, surge à nossa frente a tão afamada e merecida "Cruz dos Mortos", símbolo da nossa vitória, do nosso suor derramado nas rochas da Labruge.

A dureza é para todos


Cruz dos Franceses, no ultimo terço da Serra da Labruge - Símbolo da vitória









Epíteto com homenagem a peregrina Australiana, junto à base da cruz dos Franceses

Consoante manda a tradição, depositamos uma pedra junto da mesma, ao lado de tantas outras, que assinalam a passagem de outros peregrinos.


Pessoalmente, naquele momento e após estar em frente á cruz, senti um sentimento indescritível de alegria, misturado com uma emoção, por saber que tinha vencido um marco importantíssimo e saber que ali junto aquela cruz, outrora a população local conseguiu suster as tropas Napoleónicas. Aquilo que sentia, concerteza os restantes camaradas também o sentiam, foi sem dúvida um dos momentos fortes da viagem épica.



O Ramos cumpriu com o desejo à sua família






Depois da ascensão à Cruz, o martírio ainda continua, mas por pouco tempo

Havia agora que aproveitar a descida em direcção a Rubiães e depois para Valença, onde nos aguardava um dignissímo lanche oferecido pelo Ramos, a fim de celebrar o aniversário da sua esposa.



Albergue de Rubiães



VIA ROMANA XIX


Em direcção a Valença do Minho


Ponte Internacional de Valença do Minho



À entrada de Espanha

Catedral de Tuy




A caminho do Porrino




 Escusado será dizer, que no fim de dito repasto, com a barriga cheia, a vontade de prosseguir era pouca, no entanto era necessário chegar ainda ao Porrino, local escolhido previamente para pernoitar-mos.


Entrada em Porrino


Espanholitas




Albergue do Porrino

Convém alongar após longas horas a pedalar










Pelas 19h00, entramos na cidade do Porrino, onde decorria a festa local, dificultando imenso a nossa deslocação em direcção ao albergue, tal era a quantidade de pessoas que afluíam na rua.
Apresentadas as credenciais no albergue e depois de alojados, havia que ir jantar, ou melhor tentar comer alguma coisa, como é sabido em Espanha, encontrar comida decente é uma miragem no horizonte e o tempo começava a escassear.
Convém alertar que os albergues em Portugal e Espanha só admitem entradas até às 22H30, quem chegar chegou, quem não chegar dorme ao relento.
A confusão era tanta no Porrino que a procura de restaurante não se mostrou uma opção viável, tendo o pessoal optado pela Pizzamobil. Modéstia à parte, mas até as pizzas Portugueses são bem melhores.

Depois de ter o estômago cheio de pizza e de coca cola, só nos restava abrir passo rápido em direcção ao albergue, que apesar de ser uma construção moderna com todo o conforto e higiene, as camaratas  mais pareciam fornos de cozer pão, tal era o calor que se fazia sentir.
Camarata do Albergue do Porrino

3ª Etapa: Porrino - Santiago de Compostela 100 km

Saímos do Albergue pelas 08h00 espanholas, ou seja 07h00 Portugueses, a noite ainda pairava no Porrino, não se vislumbrando viva alma nas ruas; A festa da cidade e a farra dessa noite aliada ao fim de semana, convidava certamente os seus habitantes a procurarem o conforto das suas camas.
Difícil, foi encontrar um sitio para tomarmos o pequeno almoço, visto que o comercio estava todo encerrado, tendo sido necessário solicitar essa informação à Policia local, que nos indicou uma pastelaria que costuma abrir cedissímo. 
Na dita pastelaria, só havia as sandes de janbon, croissans e pouco mais. Que desilusão! Não há nada como as pastelarias Portuguesas... Já que a escolha não era muito difícil, o pessoal optou todo pelos croissans, que apesar de tudo, tinham bom aspecto, tirando o aparte de serem servidos num pires de sobremesa, a fim de serem degustadas com faca e garfo. 
Mas que Panerei..... são essas? Disse logo ao empregado de balcão que podia arrumar o prato e talheres, que os croissans são para serem comidos à mão. 
Tomado o pequeno almoço, havia que seguir em frente, no entanto a manhã estava bastante gélida, havendo necessidade de vestir o corta vento, enquanto o sol não aparecesse e o pessoal aquecesse.
Seguimos pela N 550, passando pela zona industrial do Porrino, que é de certeza o troço mais feio desta viagem, em direcção a Redondela. Em redondela tirou-se mais umas fotos da praxe, junto ao albergue local denominado "Casa da Torre", que é um edifício muito emblemático. 

Albergue de Redondela





Daqui seguimos para Pontevedra, apreciando a bonita ria de Vigo e muito mais.


Simplesmente maravilhoso, quem passa deposita uma pedra


A beleza da natureza - A Ria de Vigo
Ainda há pessoas que querem ir para hotéis...

Deslumbrante
Aqui pode-se deixar a sua vieira para oferta ao Apostolo Santiago






A jornada rendia bem, pois o pessoal estava com a moral em alta, e o espírito de grupo era notório, tirando algumas birrices entre elementos, mas que são perfeitamente normais neste tipo de eventos e que até acabam por animar a malta, como foi o caso, ao chegar a Padron, pelas 18h00, já relativamente perto de Santiago, mais ou menos a 20 km, onde alguns queriam já ali ficar junto ao albergue por apresentarem algum desgaste físico e outros pretenderem continuar até Santiago, visto que a distancia era apenas de 20 Km.
Por unanimidade do pessoal continuamos para Santiago, na condição de abrandar ligeiramente o ritmo, pois determinados elementos já se ressentiam da jornada, pois em vez de beberem água queriam era estrelas da Galicia, depois quem paga é o corpo.
Devo dizer que estes últimos 20 km, foram bem penosos, pois a variação de altimetria era evidente e fazer aquela subida de Santiago durante não sei quantos kms, não é pêra doce, tendo o grupo fraccionado-se e reagrupado à entrada de Santiago.

Em Santiago, alguns preferiram rumar logo em direcção ao Seminário Menor, mas eu e o Augusto, optamos por ir à catedral, pois pessoalmente acho que só lá é que a viagem termina.
Chegado ao recinto, frente à catedral, pelas 20h00, juntamente com o Augusto, agradeci a Deus por ter chegado bem e ter conseguido o objectivo a que me propus, contudo já sentia uma ponta de tristeza por esta aventura ter chegado ao fim. Não fosse o chamamento da minha filhota e alguns problemas de saúde de familiares que se agravaram na minha ausência, sentia-me tentado  regressar novamente de bike, pelo menos até Valença do Minho, talvez no próximo ano.

Reagrupado o grupo frente ao Seminário Menor, era altura de entregar as credenciais e subir em direcção à nossa camarata, que não foi fácil de localizar, tal é a sua dimensão e tomar um merecido banho para podermos ir jantar.
Em Santiago, ao contrario das outras localidade por onde passamos, não faltavam restaurantes e marisqueiras nas imediações da catedral. Escolhido o restaurante, entramos e o patrão do mesmo apercebeu-se imediatamente que éramos Portugueses e peregrinos de bicicleta. Foi-nos sugerido um misto de carne, que estava do melhor que podia haver.





No final solicitada a conta, só nos faltou chorar. 300 €, vou escrever por extenso para ver que não há engano (TREZENTOS EUROS). Fod........asse., Fod........asse., chular ao ca...., realmente estavamos a ser comidos, mas também a comida foi comida.
Pagamos bem, mas comemos bem.
Na hora do pagamento e ao tomar café, aínda tivemos direito a dois licores de qualquer coisa, que escorregavam pela garganta como um rio que brota da montanha em direcção à sua foz, não sendo preciso mastiga-los. O Pessoal tendo-lhe tomado o gosto, não se faz rogar e um mais atrevido ou melhor, com os braços cumpridos, pegou nas duas garrafas que estavam por detrás do balcão e toca a servir mais umas rodadas, sempre com a cumplicidade do proprietário. O que é que ele queria? 300,00 €, não podia reclamar, é que o pessoal estava já a ficar bruto dos queixos.
Todavia a nossa liberdade acaba, quando a de teceiros é posta em causa e como bons peregrinos, achamos melhor ir andando em direcção ao Seminário menor, onde uma merecida cama nos esperava, para acolher os nossos estomagos saciados de carninha.






A apoteoso final, com a amargura do final.
Que saudades! já acabou?



No exterior do Seminário Menor, local onde pernoitamos




Ofertas dos Peregrinos na oficina do Peregrino

O regresso é feito de comboio, desde Santiago a Vigo

No interior do comboio até Vigo



Estação de vigo

O segurança a controlar a brasa.. cuidado...............................



O nosso comboio em Vigo que nos traria até ao Porto


Ainda se lembram dela? a famosa bike que custou 50 aerios no continente.
Conseguiu chegar a Santiago
Parabéns à bicicleta e sobretudo ao Ramos pela sua capacidade física e sacrifício



Á espera do comboio em Vigo




GRANDE EQUIPA


Obrigado por nos matar a sede







































































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